quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

SCHUBERT OFUSCADO PELO SEU MESTRE BEETHOVEN - PUBLICADO EM MÚSICA POR LARISSA PAES

Contemporâneo de Beethoven, Schubert ficou à sombra da genialidade reverberada e reverenciada pelos vianeses dos séculos XVIII/XIX e efusivamente pelo próprio Franz Schubert.



Schubert (1797 – 1828) era 27 anos mais novo que Beethoven. Morreu aos 31 anos por complicações da sífilis, um ano e alguns meses depois da morte de Beethoven. A última música que Franz ouviu foi o Quarteto em dó sustenido menor, do Ludwig Van. Evidenciando até o fim da vida a admiração quase patológica de Schubert por Beethoven. Com a modéstia que beirava a depreciação, Franz indagava: ‘’Mas o que posso fazer depois do que fez Beethoven?’’.


Diferente de Mozart, Beethoven... Schubert não interpretava suas composições, assim não era conhecido do público, já que não era virtuosíssimo no piano. Sendo miserável durante toda a vida, sobrevivendo da solidariedade de amigos que o hospedava, não tinha piano e compunha a seu modo; de cabeça, por vezes.


De todos os gêneros que englobam a música erudita, os Lieder – canção – e as músicas de câmara expressam de forma genuína toda a intensidade introspectiva das composições schubertianas. Por nutrir uma obsessão pelos poemas de forte dramaticidade de Goethe, Franz compôs as mais profundas e reflexivas lieder baseadas na poética do célebre escritor alemão, como a melancólica Gretchen am Spinnrade (‘’Margarida na roca’’). Schubert conseguia metamorfosear magistralmente os densos poemas goetheanos em potências metafísicas apenas com voz e piano, já que naquele período era mais comum transformar essas obras em óperas.

A obra camarística schubertiana é permeada de nuances que é necessário imergir livremente para adentrar verdadeiramente na sua poética musical. O Quinteto para piano em lá maior, op 114, ‘’A Truta’’, é a mais difundida e a mais complexa obra desse gênero. O Quarteto de cordas, n 14, em ré menor, ''A Morte e a Donzela'' é uma obra que mistura a obscuridade e a leveza etérea, sendo o segundo movimento a funesta beleza. Pode-se dizer veementemente que Schubert apresentava dificuldade com sinfonias, sonatas e óperas, tendo uma relação ambígua de aconchego e rejeição, mas que encontrava sua espontaneidade artística nos inúmeros lieder compostos e nas elegantes, dançantes e trágicas músicas de câmara, despejando nesses gêneros toda a sua solidão, miséria, melancolia e angustia.

Beethoven não só ofuscou a expressão schubertiana, mas todos que aparecessem, pois Ludwig Van era a devoção da época. O quase misantropo Beethoven influenciou tão violentamente Schubert que se pode considerar Franz o pupilo que Beethoven nunca teve.

Texto de Larissa Paes em OBVIUS MAGAZINE  - © obvious: http://lounge.obviousmag.org/promiscuidade_artistica/2013/07/schubert-ofuscado-pelo-seu-mestre-beethoven.html#ixzz4U9TBe43m
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