terça-feira, 1 de abril de 2014

Eu, hein? Vai entender o ser humano... Bolsas de grife

Foto: UNIVERSO - CHILE - VALE DEL VULCAN


Há uma lei em minha cidade que proíbe o uso de faixas dependuradas pela cidade para vender , divulgar, o que quer que seja . 

Exceção para as faixas de órgãos públicos para divulgar campanhas de vacinação, mudanças no trânsito, campanhas educativas, etc.

Acontece, que muitas pessoas não estão nem aí, e como brasileiros mal educados, se julgam no direito de desrespeitar as leis para promover seus negócios dependurando faixas e banners para todo lado .

Eu, que ando com minha velha Rural Wyllis, ano 66, cor de burro fugido, tipo rural mais enxuta e massa da cidade (Deve ter mais de 5 anos que não entra num lava jato e tem massa plástica até no teto), dirijo distraído, olhando para essas faixas, vendo seus reclames e telefones. Anoto os números e depois ligo para tentar fazer negócios, o que não tem sido muito fácil, devido ao atendimento de péssima qualidade dos atendentes dessas empresas.

Fatos que tenho relatado no FB e dos quais vocês são testemunhas disso .

Aliás, preciso parar de dirigir olhando para as faixas, ontem, quase entrei na traseira de uma Ferrari Califórnia novinha . 

Bem, a última faixa que vi e li informava a venda de bolsas de grife com entrega em domicílio .

Anotei o número do celular e pensando em fazer uma surpresa para a minha mulher, liguei para comparar preços de bolsas das marcas Dolce Gabana, Balenciaga, Luis Vuitton, Prada, Lacoste e outras, e quem sabe adquirir uma .

Ligo, toin, toin, toin - ocupado

Tento outra vez, e outra e mais tantas outras vezes e o danado do celular sempre ocupado . 

Até que, tchan! Surpresa, consigo ser atendido . Voz de mulher

Pergunto se ela é que anunciou a venda de bolsas .

Sim, meu querido . 

Já fiquei invocado, acho esse tipo de tratamento por telefone, com uma pessoas estranha, no mínimo estanho .

As bolsas que vocês anunciam são legitimas mesmo ou são cópias falsificadas?

Meu querido, nós importamos todos os nossos produtos, somos especializados em bolsas de grife e nossa clientela é top .

Qual a base de preço?

Depende do modelo e da marca . Temos bolsas, carteiras e porta níqueis das melhores grifes . Os preços podem chegar a te´a R$ 3.000,00 . 
O mais barato são as bolsa sem acessórios - carteiras e porta níqueis. E as mais caras as com o conjunto completo . 
Posso levar peças variadas do mostruário até a sua casa, você escolhe e pode pagar no cartão de crédito, levamos a maquininha . 

Mas, me diga uma coisa as bolsas, carteiras e porta níqueis, todas elas trazem o logo das suas marcas?

Claro!

Então vamos combinar o seguinte, me traga o mostruário dos porta níqueis para eu escolher um para presentear minha mulher no dia de nossa bodas de ouro .

Meu senhor não vendemos só porta níqueis, assim não dá.

Então faz o seguinte, para ficar mais em conta me traga os modelitos feitos nas “Indústrias de Couro Sintético Generalíssimo e Grande Presidente Stroessner” de Ciudad Del leste, no  Paraguai. 
Dizem que as melhores são as de pele de Tartaruga . 

Seu cretino, vai arranjar o que fazer, vai @”%$*(_+^?><}

Toin , toin, toin, toin !!!

Mais um telefone desligado na cara de um cliente, na maior falta de educação na história desse país .

Eu, hein? Vai entender o ser humano?????

Chá da tarde com Manuel Bandeira

Foto: Dica de Eric Cohen no Face Book

Vou-me Embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Pneumotórax

Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
— Respire.
— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

Andorinha

Andorinha lá fora está dizendo:
— “Passei o dia à toa, à toa!”
Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!
Passei a vida à toa, à toa…

Os Sapos

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
— “Meu pai foi à guerra!”
— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”.
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: — “Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas…”

Poética

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Cartas de Meu Avô

A tarde cai, por demais
Erma, úmida e silente…
A chuva, em gotas glaciais,
Chora monotonamente.
E enquanto anoitece, vou
Lendo, sossegado e só,
As cartas que meu avô
Escrevia a minha avó.
Enternecido sorrio
Do fervor desses carinhos:
É que os conheci velhinhos,
Quando o fogo era já frio.
Cartas de antes do noivado…
Cartas de amor que começa,
Inquieto, maravilhado,
E sem saber o que peça.
Temendo a cada momento
Ofendê-la, desgostá-la,
Quer ler em seu pensamento
E balbucia, não fala…
A mão pálida tremia
Contando o seu grande bem.
Mas, como o dele, batia
Dela o coração também.

O Último Poema

Assim eu quereria meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

Consoada

Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
— Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.

O Anel de Vidro

Aquele pequenino anel que tu me deste,
— Ai de mim — era vidro e logo se quebrou
Assim também o eterno amor que prometeste,
— Eterno! era bem pouco e cedo se acabou.
Frágil penhor que foi do amor que me tiveste,
Símbolo da afeição que o tempo aniquilou, —
Aquele pequenino anel que tu me deste,
— Ai de mim — era vidro e logo se quebrou
Não me turbou, porém, o despeito que investe
Gritando maldições contra aquilo que amou.
De ti conservo no peito a saudade celeste
Como também guardei o pó que me ficou
Daquele pequenino anel que tu me deste

Porquinho-da-Índia

Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele prá sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas…
— O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.

Poemas : Revista Bula