sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Os Cinco Motivos da Rosa - Cecília Meireles - 113 anos de seu nascimento


  1. Cecília Benevides de Carvalho Meireles foi uma poetisa, pintora, professora e jornalista brasileira. Nasceu dia 7 de novembro de 1901 e morreu dia 9 de novembro de 1964, no Rio de Janeiro.
  2. Primeiro Motivo da Rosa

    Vejo-te em seda e nácar,
    e tão de orvalho trêmula, 
    que penso ver, efêmera,
    toda a Beleza em lágrimas
    por ser bela e ser frágil.

    Meus olhos te ofereço:
    espelho para a face
    que terás, no meu verso,
    quando, depois que passes,
    jamais ninguém te esqueça.

    Então, de seda e nácar,
    toda de orvalho trêmula, 
    serás eterna. E efêmero
    o rosto meu, nas lágrimas
    do teu orvalho... E frágil.
  3. Segundo Motivo da Rosa
  4. (a Mário de Andrade)
  5. Por mais que te celebre, não me escutas, 
    embora em forma e nácar te assemelhes 
    à concha soante, à musical orelha 
    que grava o mar nas íntimas volutas. 
    Deponho-te em cristal, defronte a espelho, 
    sem eco de cisternas ou de grutas... 
    Ausências e cegueiras absolutas 
    ofereces às vespas e às abelhas. 
    e a quem te adora, ó surda e silenciosa, 
    e cega e bela e interminável rosa, 
    que em tempo e aroma e verso te transmutas! 
    Sem terra nem estrelas brilhas, presa 
    a meu sonho, insensível à beleza 
    que és e não sabes, porque não me escutas... 
  6. Terceiro Motivo da Rosa
  7. Se Omar chegasse 
     esta manhã, 
    como veria a tua face, 
    Omar Khayyam, 
    tu, que és de vinho 
    e de romã, 
    e, por orvalho e por espinho, 
    aço de espada e Aldebarã? 
    Se Omar te visse 
    esta manhã, 
    talvez sorvesse com meiguice 
    teu cheiro de mel e maçã. 
    Talvez em suas mãos morenas 
    te tomasse, e dissesse apenas: 
    “É curta a vida, minha irmã”. 
    Mas por onde anda a sombra antiga 
    do amargo astrônomo do Irã? 
    Por isso, deixo esta cantiga 
    - tempo de mim, asa de abelha - 
    na tua carne eterna e vã, 
    rosa vermelha! 
    Para que vivas, porque és linda, 
    e contigo respire ainda 
    Omar Khayyam. 

Quarto Motivo da Rosa

Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.
Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.
Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.
E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.

Quinto Motivo da Rosa

Antes do teu olhar, não era, 
nem será depois, - primavera. 
Pois vivemos do que perdura, 
não do que fomos. Desse acaso 
do que foi visto e amado: - o prazo 
do Criador na criatura... 
Não sou eu, mas sim o perfume 
que em ti me conserva e resume 
o resto, que as horas consomem. 
Mas não chores, que no meu dia, 
há mais sonho e sabedoria 
que nos vagos séculos do homem. 

Pesquisa, poemas e fotos: Internet

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